A série 13 Reasons Why e a polêmica sobre como abordar o suicídio
No último dia de março de 2017, estreou na Netflix a série 13 Reasons Why, gerando inúmeros debates. A trama, que se propõe a falar sobre suicídio, foi considerada por muitos um gatilho, podendo levar pessoas a tentar tirar sua vida. Enquanto isso, outros a defendem, em nome da necessidade de abordar o assunto.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, ao redor do mundo acontece 1 suicídio a cada 40 segundos. É uma realidade chocante que a sociedade prefere evitar. Existe muito tabu em torno do tema e isso só piora a situação.
De fato, é preciso falar sobre suicídio, parar de esconder essa triste realidade e discutir como podemos evitá-la.
Contudo, existe uma maneira correta de fazê-lo.
Pessoas que enfrentam pensamentos suicidas, na maior parte do casos, estão passando alguma doença mental, como depressão ou transtorno bipolar. Esses pensamentos muitas vezes são intrusivos, aparecendo contra a vontade da pessoa e fazendo ela acreditar que não existe outra opção.
É comum que existam certos gatilhos e que imagens ou menções ao suicídio tragam a tona o desejo de se matar. Por isso, quando esse tema é abordado de maneira errada, pode ser perigoso para os que serão expostos a tal situação.
Efeito Werther
Em 1774, foi publicado na Alemanha o livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe. Nele, o protagonista cometia suicídio. Logo após esse lançamento, diversos jovens europeus perderam a vida de modo semelhante ao narrado na história.
Duzentos anos depois, o sociólogo David Phillips realizou uma pesquisa observando que após uma notícia de suicídio, os casos costumavam subir 12%. Então, ele trouxe o termo “Efeito Werther”, falando sobre como o suicídio tende a ser imitado quando abordado de maneira incorreta.
Assim, o debate sobre como abordar o tema de maneira saudável não é recente, mas estava presente bem antes da série. Ainda assim, a maneira como a série trouxe o assunto peca em muitos pontos.
Imagem promocional da série
A série 13 Reasons Why
13 Reasons Why (Os Treze Porquês, no português), conta a história da jovem Hannah Baker que comete suicídio. Mas antes, ela grava fitas e envia a cada pessoa que ela considera responsável por seu sofrimento.
A trama foi baseada em um livro homônimo e aborda temas pesados como bullying, abuso sexual e o suicídio.
Existe uma boa intenção por trás da história. Mostrar como o suicídio é um problema real e como nosso comportamento afeta pessoas angustiadas, é importante. Entretanto, a série foi irresponsável no modo que abordou o tema.
A cena do suicídio da Hannah é explícita e foi considerada quase um “passo a passo”. A série também conta com outras cenas perigosas, feitas sem a preocupação de como isso iria atingir espectadores na mesma situação da protagonista.
O modo como o ato de tirar a própria vida é apresentado, vai contra as orientações da Cartilha de Prevenção ao Suicídio da OMS, que determina diretrizes como:
- Não criar sensacionalismo ou glorificar o suicídio
- Não publicar fotos da pessoa que se matou ou cartas suicidas
- Não especificar o método utilizado
- Não fazer explicações simplistas, como mostrar o suicídio como resultado de problemas pessoais
- Não atribuir culpados
Assim, pode-se dizer que apesar das boas intenções, 13 Reasons Why está recheada de gatilhos. Sua proposta não é ajudar o espectador e sim trazer um “choque de realidade”.
Este choque pode funcionar com pessoas que ignoram o tema, mas para quem enfrenta pensamentos suicídios ou passou por situações traumáticas, assistir a esta produção pode ser muito perigoso.
Confira abaixo minha opinião completa:
Se existe alguma chance, por menor que seja, de você se sentir mal ao assistir, minha recomendação é: evite. Se expor a algo assim não irá te acrescentar nada. Sua saúde mental é mais importante que qualquer série da moda.
Caso você esteja passando por algum momento difícil e precisar conversar, entre em contato com o CVV. Eles estão disponíveis 24h para ajudar.